O erro tentador ou o princípio ativo da ficção literária considerado a partir da cultura da pós-verdade

Manuel Frias Martins

Resumo


Tomando como ponto de partida o romance História do Cerco de Lisboa, de José Saramago, e como fio condutor a ideia de «erro tentador» que o norteia, este ensaio entende o «erro» como ferramenta viável de conhecimento do princípio ativo da ficção literária. São três os planos principais que sustentam o conjunto de ideias defendidas a este propósito. Em primeiro lugar, temos a questão elementar (mas decisiva) do erro no confronto com a verdade, nomeadamente a verdade histórica. Em segundo lugar, o erro tentador da ficção literária é estudado sob a forma de mentira, de algo assumida e deliberadamente falso. Em terceiro lugar, e expandindo o conjunto de ideias apresentadas nos dois planos anteriores, defende-se que hoje em dia a reflexão cultural acerca da palavra artística não pode nem deve esquecer as incómodas cicatrizes que o erro tentador da ficção inscreve na cultura contemporânea da chamada pós-verdade.
A literatura não terá certamente toda a culpa na configuração da cultura da mentira que se foi instalando nas primeiras décadas do século XXI, mas a sua culpabilidade é inseparável dessa cultura. Só aceitando e discutindo este dado fundamental é que poderemos avançar não só no conhecimento da literatura enquanto tal, mas sobretudo na congeminação das modalidades de representação ficcional com mais viabilidade no futuro.


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