Riscar. O desenho como processo sensível e racional na investigação suportada pelo erro

José Manuel Barbosa

Resumo


Uma das primeiras ações que acarreta o desenho é, precisamente, o erro, a falha, sendo que o erro é comummente uma atitude censurável. No entanto, a imagem do desenho ocorre através da repetição do traço gerado pelo desenhador e apoiada sucessivamente no binómio erro/correção, expondo incertezas, hesitações, dúvidas, acertos, soluções, invenções, perante questões que a realidade suscita a par com a imaginação ou a investigação; procurando propor outros modos de visibilidade antes alcançados, do visto e do não visto, do visível e do aparentemente invisível, como processo sensível e racional que o erro/correção através do desenho proporciona. Pode-se sugerir como verdadeiro que a ação de riscar é um ato inato no homem, próprio das suas inquietações. Daí, pensar-se no axioma de que o traço gerou a escrita, que do vestígio do gesto ritmado nasceu o número e que do percurso da linha surgiu a geometria, instaurando a base de todo o processo de inteleção e de imaginação do homem. Colocando-nos, portanto, diante de um percurso que encontra no desenho
a génese de tudo aquilo que criamos. O erro no desenho encontra-se proporcionalmente relacionado com a correção, retificação, alteração, repetição, reprodução, memória, recordação, imagem, reflexo, interrogação, etc., vocábulos que perpetuam um vasto sistema de ligações entre o Ser e o Mundo, que a mão, a visão e o cérebro compatibilizam num mesmo ato físico e manual; por isso, o desenho é tão complexo como o próprio Ser, prescrevendo conceções de ordem existencial, sensível e racional. Trata-se de imagens que surgem da
necessidade de ver para além de e fixar ideias; ora, o desenho constrói-se sob uma estrutura implícita e explicita sustentada pelo binómio erro/correção enquanto processo fundamental de descoberta e autocorreção que genericamente compõe a transposição da experiência sensível para as formas inteligíveis e racionais da representação. O desenho é, portanto, o dispositivo que acompanha o pensamento onde o erro potencia o acerto de sentido e significado das configurações do real e do imaginário ao revelar um trabalho de múltiplas relações e possibilitando uma aproximação sistemática ao trabalho. O lugar onde se conjuga a sensibilidade e a inteligência, como apropriação e antecipação da realidade; consequentemente, espaço de ensaio, de erro,
de dúvida, de apreensão dos limites, das revisões, das formulações e hipóteses até se prefigurar numa solução adequada à investigação.


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