A pior das infidelidades: Haroldo de Campos, Lotman e a tradução de «Haikoti»

Francisco Soares

Resumo


As teorias da tradução, ou transferência, de obras poéticas entre culturas ou semiosferas diferentes, assinadas por Haroldo de Campos e Iuri M. Lotman, são poderosos centros nevrálgicos para, a partir deles, estudarmos as relações entre culturas, dentro delas as relações entre literaturas e as possibilidades de transdução poética. Fortemente personalizadas e rigorosamente formalizadas, ambas as teorias, ou visões, constituem universos próprios, mas entrelaçados por aproximações idênticas, ou complementares. Num primeiro momento, vou realizar aproximações possíveis entre os dois pensamentos até circunscrever o
respetivo núcleo de interseção. Essas teorizações conduziram-nos aos limites das implicações trazidas pelo questionamento da tradução literária a partir da teoria da literatura e da semiótica da cultura, nos termos em que os dois ensaístas exploraram tais campos. Entretanto, como é natural, há limitações que não são superadas, nem diminuídas, nem neutralizadas numa prática orientada por esse mínimo núcleo teórico partilhado. Procuro identificar um foco de resistência à tradução que ponha em prova o alcance das teorias de Campos e
de Lotman, ao mesmo tempo que as aproveite. Produzidas em tempos em que o desenvolvimento da cibernética e da cultura em redes digitais não se colocava
como hoje, pergunto-me sobre que passo é possível dar, atualmente, para aproximar mais a tradução do original sem perda da intensidade poética da comunicação literária. Não se tratando, propriamente, de uma nova
proposta de tradução literária, tenho como pressuposto teórico que os avanços atuais em neurobiologia e as facilidades trazidas pela comunicação em rede nos poderão indicar um caminho de maior aproximação entre o texto original e o traduzido. Sublinho que esta não é a proposta de um tradutor, mas a de um teórico. Não pretendo propriamente inscrever este ensaio no âmbito das escolas da tradução, mas antes experimentar em tradução uma teoria da literatura que fica implícita: a de que o suporte para a comunicação poética está no discurso
imagístico pré-verbal que, por isso mesmo, é transversal.


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